Abra a
janela. Ouça o barulho terrível da cidade em desespero. Agora feche. Silêncio
total. Esse é o silêncio que você comprou. Não, você não comprou uma
"janela anti-ruído". Você comprou silêncio. Mais do que isso: comprou
produtividade, sossego, sono de melhor qualidade, comprou saúde. Sim, prevenção
de stress, que pode lhe gerar um ataque cardíaco e lhe abreviar a existência.
Você comprou sobrevida! Esses três maços de cigarro diários que você fuma vão
lhe abreviar a vida? Não se preocupe. Essa "janela anti-ruído" compensará
este seu hábito insalubre. E aquele suco de caixinha sobre aquela mesa. Tão
mais caro que um suco de caixinha de marca qualquer. Mas esse tem
"gominhos de laranja como o suco da fazenda". Sim, você não tem uma
fazenda, mas pode se sentir um mega-investidor do agronegócio em um fim de
tarde bebendo um suco "com gominhos de laranja como feito na
fazenda". Logo ao lado dele, em momento oportuno, prove aquele chá mate
também de caixinha, caixinha essa marrom, porque ali diz que é o "chá mate
com carinho da vovó". Que coisa gostosa. Isso não é uma bebida. É
praticamente um carinho. Aquele pacote de folhas de sulfite tem "o branco
que lhe inspira as ideias". E o aviso grudado na parede do banheiro de hotel
lhe recomenda usar a mesma toalha "para salvar o planeta". Exatamente
como aquele pacote de maizena. Ele diz, em letras verde-e-amarelas
"Maizena no ritmo da Copa!". Como? Sim, não precisa fazer muito
sentido. Amido de milho no ritmo, no pique, alegria. E a Copa, o hexa, o
Neymar. A Copa passou, mas a Maizena só vence em setembro de 2017. A caixinha
venceu antes, ainda no primeiro tempo, no terceiro ou no quarto gol.
O mundo dos
negócios - dos produtos, dos serviços, das imagens institucionais, da política,
dos relacionamentos, do que quer que seja - é a rigor o mundo das ideias. Do
significado. Do espírito. Do conceito. Do que está por trás ou para além do
material. Imprima um espírito, um conceito, uma ideia, um "clima qualquer"
ao seu negócio e é capaz de ele ser notado e consumido. O mundo (e entenda o
termo "mundo" na proporção que bem entender, na figuração que
desejar, como metáfora ou sujeito) só existe a rigor através das ideias. E em
negócios este (e qualquer outro) conceito filosófico se aplica, uma vez que o
mundo dos negócios nada mais é do que uma amostragem do mundo real, com suas
contradições e virtudes, com suas injustiças, alegrias, ativos e demandas.
Ao fazer
negócio, não faça negócio. Produza significado. Ao liderar, imprima significado
às tarefas delegadas à sua equipe. Ao vender, comunique significado na
figuração de benefícios, e não apenas diga frases feitas como "este sai
bastante". As pessoas começam a considerar lhe ouvir por um minuto quando
elas percebem em você um "porta voz de algum significado". Com esse
seu "esse sai bastante" você não vai "bater sua meta". A
não ser que seu gerente tenha atribuído algum significado à tal
"meta".
Professores
não dão aulas, eles produzem experiências de reflexão que significam sabedoria,
auto-realização, crescimento existencial, alegria de viver. Jogadores de
futebol nos apaixonam pelo significado do mito da vitória no ambiente mítico da
competição. Talvez porque vistam uma camisa que os nossos pais nos ensinaram a
amar, aquele escudo do time pelo qual torcemos sem saber direito por que. E nos
comovemos com um filme pelo significado que contém. Quantas vezes usei a
palavra significado nessa reflexão? Não contei. Se isso significar algo para
você, conte. Senão, use o tempo para refletir: o que significa estar aqui
agora? Fazer o que faço? Planejar e almejar o que sonho? O que a rigor
significa o conjunto dos meus esforços e pensamentos? A quem eu importo? O que
fazer da vida, do trabalho, do tempo, dada essa ideia?
* Eduardo Peres é mágico, humorista e palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em 2000. www.eduardoperes.com.br.