Ciências políticas me interessam. O mundo da
venda me interessa. A princípio dois universos bastante diferentes, mas
recentemente me ocorreu que ambos têm ligações realmente fortes. Vamos
explorá-las nessa brevíssima reflexão, nesse artigo que me esforçarei para
fazê-lo curto:
Em ciências políticas, tive a oportunidade de ter contato desde com os
socialistas até com os liberais. As duas teorias se opõe, no que se refere à
ideologia. Adianto que minhas preferências pessoais sobre esta ou aquela
ideologia importam pouco ou nada aqui. O fato é que o mundo da teoria política
(o que se resume classificar como conceitos "de esquerda ou direita")
têm, em ambos os casos, argumentos bastante consistentes para quem decide
examiná-los em sério e a fundo, fugindo das discussões normalmente rasas e
conceitualmente equivocadas das rodas de boteco ou dos jornais de televisão.
Já o mundo da venda é bastante pragmático e prático. Como na política, tem
teorias ideológicas discordantes (que vão do "sangue nos olhos" à
"assessoria com amor pelo cliente") e é baseada suscintamente em
técnicas, na grande maioria dos casos de bastante simples compreensão.
E por que esses universos se misturam? Ora, para fazer dialogar os dois
assuntos, cito uma frase que publiquei em minha página no Facebook
recentemente, em minha "coluna" apelidada de "toque de
gestão" (pequenos aforismos sobre o mundo dos negócios): "Faz
sucesso quem, com seu trabalho, faz pessoas felizes. Isso serve para o CEO de
uma grande empresa ou para quem tem seu carrinho de pipoca na praça.".
Este aforismo acabou convidando a este artigo.
É preciso lembrar que no mundo da política, as teorias marxistas (socialismo,
esquerda) pregam uma divisão mais igualitária do produto (lucro) resultante da
"mais valia" (a exploração patronal da força de trabalho) entre o
"proletariado" (os trabalhadores); e portanto a não concentração de
riqueza exclusivamente para os donos das propriedades produtoras. Ocorre então
a "Luta de Classes": proletariado versus donos dos meios
privados de produção, em nome de uma mais justa distribuição (mesmo com
intervenções de políticas públicas) disso que chamaríamos aqui de
"felicidade" ou "sucesso".
Já no pensamento de John Locke (ou mesmo posteriormente de Adam Smith e outros
pensadores liberais, a chamada direita), prega-se a liberdade plena (sem
intervenções do estado ou de qualquer outro agente que não seja a pura
"espontaneidade do mercado") e defendem-se os direitos individuais, a
força das ações privadas para a produção, e portanto a diminuição do espaço
público e o alargamento do espaço privado. Em poucas palavras, cada um por si,
com plena liberdade para jogar as cartas que se tem. Se você é pobre, vire-se
para conseguir suas cartas (faça por merecê-las, e se não teve oportunidade ou
competência, seguirá na pobreza), e se você é rico ou tem boas cartas na mesa
(ou na manga), jogue-as corretamente para fazer por merecer o lucro.
O mundo da venda pode ser adaptado aos dois modelos políticos, de acordo com a
boa vontade de quem analisa. No caso da direita, por entender que a venda
estimula livremente a troca de capitais, e que o profissional de vendas tem de
"fazer por merecer" a confiança do comprador, assessorando-o, para a
obtenção dos seus lucros. E no caso da esquerda, por compreender que em um
processo corporativo, todos devem ter a sua parcela de participação nos lucros.
Uma justa "comissão de venda" seria, portanto, a marxista ideia
da "distribuição do produto resultante da mais-valia". Parece cômico.
Mas assim é a vida.
Em suma, podemos concluir que o processo de venda pode ser considerado um
processo iminentemente político. Está ligado ao merecimento, ao trabalho
conjunto e estratégico de toda uma equipe, (dividida em classes internas, como
em qualquer empresa: os que pensam os produtos, os que os produzem, os que
tratam de divulgá-los para comunicar ao mercado, os próprios donos desta
estrutura e os que vendem) e sobretudo à condição de vencermos quando fazemos
os outros felizes.
Como conclusão, um recado aos líderes: para obter resultados em seus
empreendimentos, exerça conceitos tanto da direita quanto da esquerda: remunere
bem sua equipe, premie justamente pelo merecimento e pelo mérito, e empreenda
na direção certa para fazer por merecer a livre confiança de seus clientes.
Todos os rios desaguam no mar: você faz sucesso quando tem pessoas felizes
trabalhando consigo, e quando trabalha para fazer clientes felizes. Faça por
merecer.
* Eduardo Peres é mágico, humorista e
palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em
2000. www.eduardoperes.com.br