quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Japonesinho organizado


         O começo de uma nova temporada é um momento simbólico. É verdade que a vida segue sem pausas significativas em nossa respiração ou batimentos cardíacos, mas a marca de o fim de uma temporada anterior para o início de uma posterior (o réveillon ou a mudança de temporada profissional, por exemplo) sempre convida à reflexão e à reorganização de pensamentos e ambições. As famosas "resoluções de ano-novo" são um clássico dessa ideia. Difícil para muitos é tirá-las da intenção e fazê-las acontecer. Frequentemente, o "no próximo ano vou emagrecer, parar de fumar, estudar inglês e aprender a andar de bicicleta" viram "começo segunda que vem, depois do carnaval, das férias de julho, do rush de outubro" e a vida segue. Paciência.

         De todo modo, essa intenção traduzida como uma "vontade de potência" de início de temporada é muito estimulante, e podemos nos organizar para usá-la em nosso favor. E para evitar essa "humana, demasiado humana" procrastinação, um bom método é o bom e velho 5S. Este é um momento oportuno para relembrá-lo e implementá-lo não só em nossos negócios mas também na gestão da nossa vida pessoal.

         O "Programa 5S" é um conhecido e simples método de organização japonês, (usado por empresas que implementaram o oitentista "Plano de Qualidade Total"), mas que bem nos serve para a vida em geral. Como mágico e palestrante, vi nesses últimos quinze anos dezenas e dezenas de diferentes gibis ilustrados explicando o tal do 5S a funcionários de empresas - alguns muito bem feitos - e sempre me encantei com a simplicidade da ideia: cinco palavras em japonês que começam com a letra S, e que em português significam: Seleção, Arrumação, Limpeza, Padronização e Implementação. Ou coisa parecida. (Já vi diferentes traduções, essa me parece a mais coerente). Em brevíssimas palavras, imagine sua mesa de trabalho ou seu guarda-roupas e: elimine o que é inútil, dê aquela limpada boa, ponha cada coisa em seu lugar, defina normas para estabelecer que o que é usado volte facilmente ao mesmo lugar e avise todo mundo convencendo-os de que é uma boa todo mundo seguir o mesmo padrão. E só.

         Ainda em outras palavras: ponha sua vida em ordem neste início de temporada, para que seus planos maiores tenham condição de florescer. Ninguém faz sucesso nessa bagunça que está aí. Mais do que ter planos ou ambições, faça com que a ordem física e a padronização dos "processos" trabalhe por você também em sua vida pessoal. Na prática, doe as roupas que você não usou nos últimos seis meses (algumas exceções sentimentais estão permitidas), jogue fora aquela nota fiscal do vídeo cassete que você comprou em 1998 (e todos os outros papéis que estiverem da mesma cor), limpe o fundo das gavetas com Veja Multi-Uso (se precisar, troque o pano mas não perca o foco), defina novos lugares para os objetos que restarem nas "novas gavetas" que você ganhou, memorize o novo lugar de cada coisa e (por favor) procure manter a ordem de tudo nesse próximo ano. Aquele "acendeu apague, sujou limpe, usou guarde" realmente funciona. Para usar uma expressão atual, seja um "organizado sustentável". E avise o pessoal de casa que o cardápio da pizzaria agora fica na segunda gaveta da cozinha e "sempre lá". Outra coisa: use seu smartphone. Ele tem aplicativos "organizadores de vida" que são absolutamente geniais, mas que ninguém usa. Explore sua agenda, faça listas de tarefas com datas e prazos, ponha seus alarmes para apitar lhe cobrando das coisas importantes, esqueça um pouco o Facebook e faça acontecer o que é relevante para a sua biografia ao longo das simples tarefas do dia. Estamos conversados? Esse artigo mudou de tom. Mas a ideia é a mesma: resoluções de fim de ano acontecem tão somente com ações durante o ano. E o ano acontece todo dia. Um pouco por dia. Um dia de cada vez. Em suma, organize-se e faça o que tem de ser feito!



* Eduardo Peres é mágico, humorista e palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em 2000. www.eduardoperes.com.br

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Venda e as Ciências Políticas


         Ciências políticas me interessam. O mundo da venda me interessa. A princípio dois universos bastante diferentes, mas recentemente me ocorreu que ambos têm ligações realmente fortes. Vamos explorá-las nessa brevíssima reflexão, nesse artigo que me esforçarei para fazê-lo curto:

         Em ciências políticas, tive a oportunidade de ter contato desde com os socialistas até com os liberais. As duas teorias se opõe, no que se refere à ideologia. Adianto que minhas preferências pessoais sobre esta ou aquela ideologia importam pouco ou nada aqui. O fato é que o mundo da teoria política (o que se resume classificar como conceitos "de esquerda ou direita") têm, em ambos os casos, argumentos bastante consistentes para quem decide examiná-los em sério e a fundo, fugindo das discussões normalmente rasas e conceitualmente equivocadas das rodas de boteco ou dos jornais de televisão.

         Já o mundo da venda é bastante pragmático e prático. Como na política, tem teorias ideológicas discordantes (que vão do "sangue nos olhos" à "assessoria com amor pelo cliente") e é baseada suscintamente em técnicas, na grande maioria dos casos de bastante simples compreensão.

         E por que esses universos se misturam? Ora, para fazer dialogar os dois assuntos, cito uma frase que publiquei em minha página no Facebook recentemente, em minha "coluna" apelidada de "toque de gestão" (pequenos aforismos sobre o mundo dos negócios): "Faz sucesso quem, com seu trabalho, faz pessoas felizes. Isso serve para o CEO de uma grande empresa ou para quem tem seu carrinho de pipoca na praça.". Este aforismo acabou convidando a este artigo.

         É preciso lembrar que no mundo da política, as teorias marxistas (socialismo, esquerda) pregam uma divisão mais igualitária do produto (lucro) resultante da "mais valia" (a exploração patronal da força de trabalho) entre o "proletariado" (os trabalhadores); e portanto a não concentração de riqueza exclusivamente para os donos das propriedades produtoras. Ocorre então a "Luta de Classes": proletariado versus donos dos meios privados de produção, em nome de uma mais justa distribuição (mesmo com intervenções de políticas públicas) disso que chamaríamos aqui de "felicidade" ou "sucesso".

         Já no pensamento de John Locke (ou mesmo posteriormente de Adam Smith e outros pensadores liberais, a chamada direita), prega-se a liberdade plena (sem intervenções do estado ou de qualquer outro agente que não seja a pura "espontaneidade do mercado") e defendem-se os direitos individuais, a força das ações privadas para a produção, e portanto a diminuição do espaço público e o alargamento do espaço privado. Em poucas palavras, cada um por si, com plena liberdade para jogar as cartas que se tem. Se você é pobre, vire-se para conseguir suas cartas (faça por merecê-las, e se não teve oportunidade ou competência, seguirá na pobreza), e se você é rico ou tem boas cartas na mesa (ou na manga), jogue-as corretamente para fazer por merecer o lucro.

         O mundo da venda pode ser adaptado aos dois modelos políticos, de acordo com a boa vontade de quem analisa. No caso da direita, por entender que a venda estimula livremente a troca de capitais, e que o profissional de vendas tem de "fazer por merecer" a confiança do comprador, assessorando-o, para a obtenção dos seus lucros. E no caso da esquerda, por compreender que em um processo corporativo, todos devem ter a sua parcela de participação nos lucros. Uma justa  "comissão de venda" seria, portanto, a marxista ideia da "distribuição do produto resultante da mais-valia". Parece cômico. Mas assim é a vida.

         Em suma, podemos concluir que o processo de venda pode ser considerado um processo iminentemente político. Está ligado ao merecimento, ao trabalho conjunto e estratégico de toda uma equipe, (dividida em classes internas, como em qualquer empresa: os que pensam os produtos, os que os produzem, os que tratam de divulgá-los para comunicar ao mercado, os próprios donos desta estrutura e os que vendem) e sobretudo à condição de vencermos quando fazemos os outros felizes.

         Como conclusão, um recado aos líderes: para obter resultados em seus empreendimentos, exerça conceitos tanto da direita quanto da esquerda: remunere bem sua equipe, premie justamente pelo merecimento e pelo mérito, e empreenda na direção certa para fazer por merecer a livre confiança de seus clientes. Todos os rios desaguam no mar: você faz sucesso quando tem pessoas felizes trabalhando consigo, e quando trabalha para fazer clientes felizes. Faça por merecer.



* Eduardo Peres é mágico, humorista e palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em 2000. www.eduardoperes.com.br 

Eduardo Peres - Programa Profissionais de Vendas - TV UOL